O Coritiba levou seis gols nos últimos dois jogos: três contra o Operário e três contra o FC Cascavel. Quando teve a oportunidade de explicar os motivos das derrotas para a imprensa e, consequentemente, para a torcida, não o fez. Não sabemos qual a leitura tática que Oliveira teve sobre as derrotas porque ele decidiu não expor seus pensamentos nas coletivas de imprensa. As últimas duas foram recheadas de respostas vagas e repetidas, como “o adversário foi melhor que a gente” (em quais aspectos?) ou “faço isso de aprendizado” (mas qual é o aprendizado?). Aqui abordaremos apenas conteúdo, mas encerro o parágrafo citando que, pessoalmente, não gostei da postura do treinador nas últimas coletivas: na primeira, apenas ódio. Na segunda, desdém. Mas esse é um assunto para o Twitter. Aqui falaremos de números.

O único dado concreto que António Oliveira soltou na última coletiva me chamou a atenção e, como é estatística, eu pego esse recorte para abordar aqui. Disse ele:

“Se vocês forem ver o meu histórico, enquanto treinador, é difícil as minhas equipes levarem três gols, quanto mais seis em dois jogos”

António oliveira, técnico do coritiba, após a derrota para o fc cascavel por 3 a 1 pelo primeiro jogo das quartas de final do paranaense 2023

Pois bem. Eu fui atrás do histórico de António Oliveira. São 93 jogos como treinador e ele está certo: tinha sofrido três ou mais gols numa mesma partida em apenas três ocasiões. Com as duas últimas derrotas, agora são cinco jogos. Ou seja, sofreu três ou mais gols em apenas 5,38% dos jogos na carreira.

Mas não podemos olhar apenas para os times de António Oliveira. Se vamos pegar o histórico, temos que comparar com alguma coisa, e o universo escolhido aqui foi o de treinadores da Série A do Brasileirão. E, sim, ele continua tendo um número fantástico em relação a esse aspecto por si só: está atrás apenas do conterrâneo Abel Ferreira (que sofreu três ou mais gols em apenas quatro dos últimos 93 jogos) e Fernando Lázaro (que iniciou a carreira como técnico agora e, portanto, ainda não sofreu três ou mais gols nos primeiros 16 jogos nesta função).

Só que analisar apenas este aspecto é muito raso. E se fizermos ao contrário? E se pegarmos o número de vezes que os times de António Oliveira fizeram, em uma única partida, três ou mais gols? Nunca é demais lembrar que a diferença de três gols é exatamente o que o Coritiba do técnico português precisa para avançar às semis do Paranaense.

Em 11 dos últimos 93 jogos o time de Oliveira fez três ou mais gols numa mesma partida. Ou, em termos percentuais, 11,8% dos jogos. Muito? Pouco? Se levarmos em consideração o placar que o Coritiba precisa fazer para se classificar (3×0, 4×1, 5×2, etc), o número de jogos reduz para seis em 93.

Mais uma vez, abrimos o leque e levamos em consideração os últimos 93 jogos dos outros 19 técnicos do Brasileirão. Fazendo isso, descobrimos que Oliveira é o terceiro técnico que menos faz três ou mais gols num único jogo. Está atrás apenas de mais um conterrâneo, Pedro Caixinha e, claro de Fernando Lázaro, que apesar de ter apenas 16 jogos na carreira já fez três ou mais gols numa mesma partida em seis ocasiões (ou seja, em 37,5% dos jogos). Abel Ferreira, que está próximo de Oliveira quando falamos de três ou mais gols sofridos, está muito proporcionalmente distante quando o assunto é três ou mais gols feitos: é o terceiro, com 26 dos últimos 93 jogos vencidos com essa quantidade de gols.

Há, por fim, um fator clássico – mas que é sempre bom explanar – a ser analisado: o aproveitamento no período. O técnico do Coritiba tem, se comparado com os últimos 93 jogos dos companheiros de profissão da Série A, o quinto pior aproveitamento (49,1%).

Verifica-se aqui um certo padrão. Não é regra (até porque há inúmeros outros dados para que cada técnico tenha esse aproveitamento: time no qual está, país do time, estado do time, competições que joga, taxa de ocupação do estádio, desfalques por lesões, e assim vai), mas, no geral, tende a ter um melhor aproveitamento quem tem um saldo melhor entre jogos com três ou mais gols feitos e jogos com três ou mais gols sofridos. Há também técnicos com bom aproveitamento que tem uma quantidade muito maior de jogos nos dois quesitos, como Fernando Diniz (Fluminense), Mano Menezes (Internacional) e Renato Paiva (Bahia).

Analisando apenas esses dados e vendo os jogos de António Oliveira, me parece ser um técnico com feitio mais conservador. No último gráfico podemos ver que António Oliveira é o treinador (exceto Fernando Lázaro, claro) com a menor quantidade de jogos em que fez ou sofreu três ou mais gols (gráfico nas cores verde e vermelha), o que corrobora a tese. Prefere não arriscar tanto no ataque e manter uma defesa mais sólida, saindo em transição rápido (vulgo contra-ataque). Quando tem o placar de um ou dois gols à favor, prefere manter uma postura defensiva e sem sustos.

Só que, para classificar para a semifinal do Estadual, António precisará montar um time que corra riscos. Como eu disse acima, há inúmeros outros fatores que podem fazer com que António consiga a classificação. Por exemplo, se fizer um gol no começo, a tendência é que a torcida empurre o time.

Mas, estatisticamente falando, Oliveira é o segundo técnico entre os times da Série A que menos fez três ou mais gols numa só partida (fez apenas em 11,83% dos jogos de sua carreira). Será preciso se agarrar ao peso da camisa, ao fator casa, ao investimento feito no elenco e a esse pequeno percentual.