“O Pelé morreu”.
A primeira a me dar a notícia não foi a Renata Vaconcellos, mas sim a Camilla, talvez 10 segundos antes do plantão da Globo aparecer na nossa televisão. São desses dias que lembraremos pro resto de nossas vidas. Camilla, aliás, segue trabalhando à toda no plantão de ano novo. O meu plantão, por ironia, acabou ontem. Por isso hoje só acompanhei e parei pra sentir o que Pelé representou para mim.
O Rei não foi de supetão. Foi aos poucos, foi nos preparando. Quando chegou mesmo a hora de ir, o mundo já estava preparado. Ao invés de ficarmos assustados, ficamos reflexivos, e até abrimos alguns sorrisos enquanto víamos todas as homenagens ao Eterno.
Não vi Pelé ao vivo e a cores. Nem dentro, nem fora do campo. Nunca conversei com Pelé. Não tirei uma foto nem peguei um autógrafo. Vi Pepe, vi Cafú, vi Zico, vi Sócrates, vi Messi. Mas, Pelé, o maior, não. Faço parte dessa parcela de milhões de brasileiros que não teve a oportunidade de se encontrar com a lenda. Talvez daqui 50 anos meus netos me perguntarão sobre ele, e infelizmente não terei um registro pessoal para provar que, sim, vi com meus olhos: ele foi real. Esse pensamento egoísta até me entristece um pouco, como se zerar a vida em 100% fosse, agora, inalcançável. Bom, talvez eu mostre esse texto, publicado na mesma data.
Mas, logo em seguida, um outro pensamento vem à tona: eu sou quem sou, um amante do futebol, um retardado pelo esporte, também por causa de Pelé. Afinal, foi ele quem abriu o caminho para que essa magia florescesse no Brasil e no mundo. Boa parte dessa culpa é dele, e que culpa maravilhosa de se carregar. E Pelé carregava muito bem. Soube, como poucos, lidar com essa fama. Soube porque nasceu pra isso, imagino. Nunca me pareceu que a fama fosse, para ele, um fardo.
Apesar de todos os veículos de notícias já estarem preparados para esse dia há pelo menos 15 anos, eu escolhi escrever sobre isso hoje, no final desse 29 de dezembro. Queria ver o que falariam, queria entender como eu mesmo reagiria. Para minha surpresa, pouco fiquei triste. O sentimento que mais me consumiu foi o de gratidão. Escrevi abrindo, de volta, aquele sorrisinho de quem está apaixonado. Apaixonado pelo futebol. Amante do esporte que Pelé criou. Um campo, uma bola, uns jogadores e duas traves? Os ingleses criaram. O futebol de verdade foi aqui, foi Pelé.
Pelé se torna uma verdadeira lenda, palavra que foi banalizada algumas vezes para algumas pessoas (inclusive por mim). Para o Eterno vale a definição: lenda. Não sei o que acontecerá com o futebol daqui 500 anos, afinal ele surgiu há tão pouco tempo. Talvez deixe de existir, talvez fique igual, talvez evolua para algo mais. Mas apostaria que, daqui 500 anos, falarão de Pelé. Falarão embasbacados, como se fosse impossível um Pelé ter existido. Não falarão de mim ou de você. Nem de influencers, nem de atrizes e atores. Falarão, sim, de Pelé, um homem que – ainda que ser humano – foi mais que um homem. Um homem que era procurado para uma foto por líderes políticos poderosos e pela mais humilde das pessoas.
Pelé foi tão Rei que, quando nos lembrarmos, várias imagens virão à nossa cabeça. Pelé não se vai com um único rosto. Quando nos lembrarmos, veremos o Pelé de 17, o de 21, o de 30, o de 50, o de 82 anos. Lendas são assim.
Como será que é nascer pra ser o maior brasileiro de todos os tempos? Como será que foi viver uma vida sendo o melhor jogador do maior esporte da Terra? Jamais saberemos. O único que soube foi Pelé. E, por isso, falarão de Pelé, a Lenda.
29 de dezembro de 2022, o dia em que Edson se tornou o Rei Eterno.