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Eu tinha um blog.

Há uma década eu escrevia meu último texto no meu antigo blog. Eu já não gosto muito de ler o que eu acabo de escrever, quanto mais as escritas empoeiradas. Mas pra abrir essas novas portas, decidi passar os olhos por lá. Engraçado como a gente muda em 10 anos. No meu último texto as frases são frágeis. As sentenças, amarguradas. A união de palavras não brilha. Não é pra menos, é claro: aquele post se refere ao primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 2012. 

Aquele jovem de 21 anos decidiu criticar a Globo depois de dormir e, ora ora, vejam só: mal sabia ele que aos 31 trabalharia no próprio alvo de suas críticas (risos amarelados). Também falou de Neto e de Luciano do Valle. Citou erros de arbitragem e injustiças. Termina assim o antepenúltimo parágrafo: “O brasileiro tem memória muito curta: esquece fácil de corrupção e finge que vive num país de maravilhas. Quem sofre com isso é quem batalha por um mundo justo, honesto e ético”. Se eu lesse essas palavras no atual contexto político, juraria que foram escritas por um bolsonarista. Informo: não é o caso. Mas a política, acho, estará presente por estas novas terras.

Meu eu de 21 anos não aguentou a decepção do segundo vice seguido na Copa do Brasil. Nem escreveu sobre o segundo jogo. E sobre mais nada. Rolei a barra pra baixo e encontrei uma longa e positiva crítica sobre o Living Things, então novo álbum do Linkin Park. Esse eu não consegui ler, por preguiça ou por medo de parecer fã demais. Deixemos pra mais tarde.

Mais pra baixo e encontro uma desculpa sobre a falta de textos no blog (isso continuará, pelo jeito) mascarada de reflexão sobre felicidade, e antes disso, algumas palavras sobre um livro de Zafón. Este, já de 2011, o que comprova absolutamente como o blog já não era mais tão tentador assim.

O blog ainda segue ativo e, aliás, pode ser encontrado facilmente. Apesar de não estar nas profundezas da internet, não se assuste com o tema gótico. A fonte eu escolhi por achar legal, mas hoje me parece macabra. A foto… bom. Eu gostava daquela foto. Hoje ela me faz abrir um sorrisinho de astúcia e vergonha. E a legibilidade… Bem, lembro que um professor da faculdade disse em uma aula que era melhor ler uma palavra branca num fundo preto. Talvez essa seja a única coisa que eu me lembre daquele professor, que não sei o nome, nem o rosto. E, pra piorar, imagino que estava enganado.

Agora temos esse aqui. Nada mais do que uma versão 2.0 daquele outro lá. E convenhamos que provavelmente meu eu de 41 anos vai abrir esse texto e sentir a mesma vergonha que o eu de 31 sentiu do meu eu de 21.

Uma penseira.

Opa! Beleza? Chega mais, chega mais. Só não ligue a bagunça, ainda estamos em construção por aqui. Ajeitando algumas coisas que ainda estão fora do lugar, sabe como é. Mas se achegue, tem bera na geladeira, só pegar. “Que lugar é esse? Que caralhos é overkotz? Por que você vai fazer isso com a gente?” Calma. Senta aí que eu te explico.

Tenho pensado demais. O mundo está me e te bombardeando com informação quase que 24 horas por dia. Nos stories, nos feeds, no meu vício chamado Twitter, na TV, no rádio. Pra qualquer tela que a gente olhe tem alguém expondo alguma coisa, e expondo de forma rápida. A democratização das redes faz com que todo mundo consiga extravasar o que pensa em poucos segundos (ou em poucos caracteres). Não estou reclamando dessa democracia, não. Por aqui a gente gosta demais de uma fofoca, de saber como tá a vida dos outros e como os outros se posicionam na vida. Mas não dá pra negar: é MUITO conteúdo.

Eis que chega a noite. Eu escovo meus dentes, apago a luz, deito na cama e… fico pensando em tudo o que vocês me falaram durante o dia, muitas vezes sem nem perceberem que estavam me atingindo com seus dizeres. E aí eu fico matutando. Um pensamento sobre um assunto, que leva a outro pensamento, e mais outro, e mais outro… E ainda some-se a isso todos os sentimentos que cada pensamento traz. Rapaz, o alvoroço dentro da minha cabeça é grande, viu?

O overthinking (arrá! já sabe da onde vem o over do nome, né) durante a noite – e muitas vezes durante o dia também – faz com que eu demore pra conseguir relaxar e dissipar tudo o que a marota da minha mente produz. Penso em escrever alguma coisinha do que pensei no Twitter, e até digo por lá alguma besteira, mas o espaço é limitadíssimo. A profundidade que eu sempre gostei – e busquei – não cabe lá. Penso em fazer um vídeo, mas a minha busca por uma estética audiovisual perfeita faz com que eu desista antes mesmo de tentar. Publicar um textão no Facebook, talvez, mas… alguém ainda tem Facebook?

Bom, no começo do ano uma velha rotina começou a rondar as periferias da minha mente. Eu tinha um blog. Eu até escrevia nele! Comecei em 2009 e parei em 2012. E, bem, de lá pra cá, os únicos textos que escrevi foram os esporádicos sobre momentos marcantes da vida, algumas peças promocionais para a RPC, uma ou outra reportagem para o Globo Esporte e, claro, muitos tweets. E pior que eu gosto de escrever. Meu texto está há milhões de anos-luz de um Nelson Rodrigues, mas também não é nada pra se jogar completamente no lixo, e digo isso com propriedade, porque ando lendo cada barbaridade por aí.

É chegada a hora de eu voltar a dar mais vazão para o meu overthinking. E talvez fazer com que você mesmo sofra desse mesmo mal, por minha causa. Veja você que baita contradição.

“O que é esse lugar?”, eu imaginei você me perguntando lá em cima. Respondo.

Esse espaço aqui é uma penseira. 

Nada mais do que uma forma que encontrei pra organizar um pouco o que me vem à cabeça, sem quaisquer limites, e de quebra fazer com que alguns poucos de vocês leiam o que diabos eu tenha a dizer, afinal uma visualização ou outra é sempre boa para o ego. Engraçado, eu tenho vergonha de ler o que eu escrevo, mas gosto que vocês leiam. Vai entender. (Nota mental para falar sobre isso na terapia).

Posterguei esse primeiro post quase o ano inteiro. Escolhi o nome, comprei o domínio, e desisti por medo. Comecei a programar, a montar o visual, a deixar redondinho, e desisti por medo. Escrevi uns três ou quatro textos pra publicar, mas voltei a desistir por medo.

Se eu não tenho medo da exposição? Pra caralho. Há pelo menos 15 anos tenho tentado não me importar com o que os outros pensam de mim. Mas ao mesmo tempo eu gosto de achar que escrever é o que eu sei fazer da vida. Então, alguém tem que ler e julgar. Afinal, não é essa a era que vivemos? A do julgamento desmedido? Aos 31 eu imaginava que eu pudesse estar melhor preparado. Mas, quer saber? Foda-se. Espero que no futuro eu volte pra ler isso aqui. Uma bronca de mim para mim mesmo – tal qual um “eu avisei!” – ou um elogio pela coragem? Vai saber. 

Vamos às pedras. O rio voltou a descer.


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